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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre - 'Ennio, O Maestro'

Sinopse: O cineasta Giuseppe Tornatore presta homenagem a Ennio Morricone e relembra a vida e a obra do lendário compositor italiano: desde a sua estreia com Sergio Leone até o filme "Os Oito Odiados", que conquistou o Oscar de melhor trilha sonora. 

Certa vez eu estava assistindo ao documentário sobre como foi complexa as filmagens de "Tubarão" (1975) de Steven Spielberg. Em certo ponto o diretor diz que metade do sucesso da obra se deve a sua trilha sonora e da qual foi criada pelo compositor John Williams. No filme, o artista faz com que a trilha se torne um elemento crucial, já que toda vez que a fera se aproximava a trilha dispara e servindo de alerta para quem assistia.

A música existe dentro da história do cinema desde quando essa arte foi criada, onde os pianistas tocavam os seus pianos atrás da tela enquanto o público assistia a história. Com o passar do tempo as trilhas sonoras começaram a serem criadas especialmente para serem inseridas no filme, mas para isso precisaria de compositores que soubessem captar a essência de cada cena e para sim criar uma música que se casasse com ela. Ennio Morricone, talvez, tenha sido o melhor a captar essa tarefa, ao criar melodias fantásticas e que faziam com que cada cena se sobressaísse muito além do que os cineastas haviam criado para as suas obras.

Em “Ennio, o Maestro” (2022) dirigido por Giuseppe Tornatore, do maravilhoso "Cinema Paradiso" (1988) é sobre o lendário compositor Ennio Morricone. Indicado inúmeras vezes ao Oscar e autor de mais de 500 faixas de música, a obra segue a carreira do compositor com entrevistas e depoimentos de artistas e diretores como Quentin Tarantino, Quincy Jones, Bruce Springsteen, John Williams, Clint Eastwood, Hans Zimmer e outros. O longa também traz outros fatos não revelados sobre o compositor, como seu amor por xadrez, que pode ter ajudado em suas composições, seu pensamento e motivos por trás de cada faixa.

Tornatore abre o documentário com diversos depoimentos curtos com realizadores que trabalharam com o compositor ou com aqueles que simplesmente buscavam na figura do artista uma forma de inspiração. Começando a vida como trompetista, Morricone foi logo chamado para trabalhar na tv italiana, onde fazia diversas trilhas sonoras e já despertando atenção dos cineastas da época. Não demorou muito para que ele fosse chamado por um velho conhecido de tempos de escola, mais precisamente por Sergio Leone.

Spaghetti western dos anos 60 foi um subgênero que revitalizou o faroeste em uma época que estava enfraquecido nos EUA e coube aos jovens diretores italianos em mudar esse quadro. Quando Leone chamou Morricone para criar a trilha de "Por Um Punhado de Dólares" (1964) mal imaginava o quanto ele ajudaria dentro do gênero, ao criar trilhas que se misturavam com os efeitos sonoros, fazendo delas melodias que se sincronizavam com os duelos e criando assim temas para os seus respectivos protagonistas. Só mesmo Morricone para criar um tema para o personagem de Clint Eastwood, do qual entrou para a história do cinema e avançaria para outras casas através de "Por Uns Dólares a Mais" (1965) e "Três Homens e um Conflito" (1966).

Embora seja uma passagem curta, o documentário não esconde a expressão de emoção de Morricone com relação a sua maior obra prima que foi a trilha para "Era Uma Vez no Oeste" (1968), filme que fala sobre a morte e um novo começo para oeste americano. Curiosamente, o compositor trabalhou com cineastas autorais como Pier Paolo Pasolini ou Federico Fellini que poderiam contrariar algumas passagens de suas trilhas, pois estamos falando de realizadores que ajudaram a mudar a cara do cinema italiano. Porém, uma vez que escutavam as suas melodias e sendo incorporadas nas cenas, não tinha como eles não serem convencidos pela autoria do gênio e que faziam com que os seus filmes ganhassem um novo significado.

Outro ponto significativo do documentário é mostrar o lado mais humano do realizador, do qual o mesmo gostava de jogar xadrez com os seus colegas de profissão, assim como também ao lado dos cineastas enquanto ele pensava na melhor maneira de construir as suas melodias. Vale destacar que por detrás de todas as suas obras sempre havia uma avaliação através de sua esposa Maria Travia, da qual a mesma esteve com ele em praticamente em todos seus trabalhos e que com certeza o seu amor lhe dava um grande fortalecimento. Essa força, aliás, nunca se esgotou durante a sua vida, nem mesmo quando ele pensava que achava que estava chegando perto de sua aposentadoria.

Quando parecia que o compositor iria parar de trabalhar eis que inúmeros diretores sempre o chamavam para voltar a trabalhar. Sergio Leone, por exemplo, chamou Morricone para compor a trilha da qual seria pertencente ao seu último filme, "Era Uma Vez na América" (1984). Leone estava tão encantando pela trilha sonora de Morricone que fazia questão com a mesma fosse tocada durante as gravações do projeto. Portanto, ao vermos o Robert De Niro entrar em cena enquanto a música é tocada ao vivo constatamos que o mesmo está se emocionando realmente e fazendo com que a sua atuação se eleve ainda mais do que se poderia imaginar.

É claro que Giuseppe Tornatore não poderia deixar de sitar no seu documentário a sua maior obra prima que foi "Cinema Paradiso" e do qual Morricone esteve envolvido. Com um filme que sintetiza o temor sobre o fim do cinema que já existia naqueles tempos, o realizador criou uma das cenas finais mais impactantes dos anos 80, mas qual se torna ainda mais poderosa graças a trilha de Morrione e fazendo da sequência, não uma carta de despedida, mas sim de puro amor ao cinema. Com toda essa proeza é de se pensar que o realizador viria a ganhar inúmeras indicações ao Oscar e vencer, mas a realidade foi outra.

Indicado pela academia pelos seus trabalhos em "Cinzas no Paraíso" (1978), "A Missão" (1986), "Os Intocáveis" (1987) e Malena (2000) o realizador não ganharia a cobiçada estatueta por nenhum desses trabalhos e fazendo disso uma das maiores injustiças da história. Morricone somente viria a ganhar um prêmio honorário pela carreira em 2006, sendo uma espécie de pedidos de desculpas atrasada, porém, merecida. Porém, e isso graças ao Quentin Tarantino, o compositor veio a finalmente ganhar um prêmio pelo seu trabalho em "Os Oito Odiados" (2015).

Ennio Morricone viria a morrer em 6 de julho de 2020, deixando um trabalho irretocável para a posteridade e da qual muitos compositores até hoje buscam inspiração através dele. Sendo reconhecido por diversas gerações, o compositor faz parte da nossa cultura, onde nascemos já ouvindo as suas músicas, mesmo quando não sabemos de qual filme a mesma pertencia.

Enfim, a música que representa o cinema tem nome e ela se chama Ennio Morricone. 


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